Sunday, November 28, 2010
MORTE AO PRECONCEITO E À INTOLERÂNCIA!
Thursday, October 28, 2010
INTOLERÂNCIA NÃO, MAMÃE!
Outro caso notório na Bíblia era a diferença entre Pedro e Paulo. Pedro teimou em pregar somente para judeus, enquanto Paulo pregou para os gentios. Por causa da sua intolerância, Pedro não teve condições de sair de Israel, enquanto Paulo ganhou o mundo para Jesus. Mas nem por isso O Senhor abandonou Pedro ou deixou de usá-lo em Israel. Jesus usou os dois na Sua obra, mas é notório que o que teve mais tolerância (Paulo) deixou um legado muito maior, fez mais amizades, conheceu outras culturas, viajou muuuuuuito e teve oportunidade de falar de Jesus de forma absolutamente abrangente. Eu voto Dilma, mas se o Serra ganhar vou ficar triste, claro, porém, essa tristeza vai durar somente alguns dias. Sei que como cristã tenho que orar por quem estiver no poder, seja direita ou esquerda, pois a vida continua e sei também que Jesus é O Senhor da minha vida, meu Candidato Eterno, em quem voto todos os dias, pedindo para que Ele reine em mim pra sempre.
Viva a Democracia! Viva a liberdade que Deus nos deu!
Rosane de Castro/Outubro/2010
Tuesday, October 19, 2010
COVARDIA
Sempre que a igreja se mete em política, é somente para colocar no poder gente retrógrada, preconceituosa e desonesta.
O Brasil não pode voltar ao passado. É pra frente que se caminha.
Rosane de Castro/Outubro/2010
Thursday, September 30, 2010
SEMEADURA DESONESTA
Gostaria de deixar bem claro que eu sou cristã, que freqüento uma igreja evangélica e sou atuante por lá, fazendo parte da escola bíblica; e o mais importante: creio em Jesus como meu Salvador. Porém, quero deixar registrado o quão decepcionada fiquei com a campanha mesquinha que muitos, mas muitos evangélicos fizeram contra a candidata do PT Dilma Rousseff. Recebi dezenas de e-mails onde se dizia que Dilma havia declarado em entrevista que nem mesmo Jesus conseguirá impedir de ela ganhar essa eleição. Mergulhei em dezenas de sites procurando tal declaração e nada; parti pro Youtube e nada encontrei. Foi aí que a “ficha caiu”. Que tempo desperdicei procurando a tal “declaração arrogante”. Entendi que era mais uma das semeaduras de notícias falsas tão comuns nas campanhas eleitorais. O que me deixou triste foi entender que esse tipo de baixeza saiu do meio evangélico. O último reduto onde eu achava que esse tipo de coisa não aconteceria era na comunidade evangélica. Ledo engano. Nós evangélicos estamos que nem o povo israelita quando liberto por Moisés. O povo saiu do Egito, mas o Egito não saiu dele. Os israelitas tiveram que apanhar muito no deserto para aprender sobre o real caráter de Deus, pois até então, construíram um deus que existia só na imaginação deles. Quando se depararam com o Verdadeiro a coisa ficou muito complicada.
Quem acompanha, mesmo que seja um pouquinho, a política desse país, sabe que a MAIORIA dos deputados evangélicos eleitos se corrompeu. Todos eles tinham o mesmo discurso desses que estão aí agora. Diziam que era preciso votar neles para garantir que certas leis não fossem aprovadas. Sabemos o resultado. Teve político crente que orou com um punhado de propina na mão. Todo mundo viu na TV.
Os marketeiros evangélicos pedem pros crentes tomarem cuidado em quem vão votar e falam das leis que tramitam no congresso. Sutilmente pedem voto para candidatos evangélicos. Não o fazem abertamente porque sabem do que aconteceu com a turma da eleição passada, mas de forma quase imperceptível querem convencer que votar em candidato evangélico é mais seguro. Me poupem! Se o pessoal empenhado no marketing deles faz isso que fizeram com a Dilma, imagine eles... Eu, hein!
Rosane de Castro/Outubro/2010
Friday, September 17, 2010
FUJÕES TURBINADOS
Medito sobre as desculpas que eles dão. Medito, medito e percebo que o motivo não é bem o que eles dizem. Vejam, esses pastores estão diariamente envolvidos com a mídia até o pescoço. Todos os dias eles vendem produtos que vão de livros até suor e pedem dinheiro aos fiéis o tempo que durar o culto. Como estão na mídia diariamente, ficam conhecidos, claro.
Sabemos que existem dois públicos para os quais os tais pastores estão expostos: evangélicos e não-evangélicos. Os evangélicos eles encaram numa boa, afinal, são os responsáveis pela existência e manutenção dos jatinhos. Não há problema em encontrá-los nas igrejas, eventos, etc., eles sabem manipular bem essa gente. É certo que existe evangélico que nutre verdadeiro pavor dessa turma de "aviadores", mas é uma minoria, não preocupa nem um pouco a turma que quer ir pro céu de qualquer jeito, de preferência, a bordo de um Cesna Executivo. Agora, os não-evangélicos é outra história. Encontrar com essas pessoas e ficar cara a cara com elas em aeroportos, restaurantes, lojas, etc., deve ser barra. Os tais pastores estão acostumados à proteção dos púlpitos, das suas multidões de fiéis, dos seus muitos bajuladores. Cercados assim, eles não precisam encarar os não-evangélicos, que por não terem nenhum compromisso com a igreja, abrem a boca e ridicularizam mesmo. Essa proteção rola no ambiente deles, mas nos aeroportos é diferente. Chegar uma hora antes do vôo e ficar esperando o momento do embarque deve ser torturante. Todos aqueles olhares indignados. Pode parecer besteira minha, mas um deles admitiu. Disse que era constrangedor para as pessoas encontrá-lo no aeroporto, já que é uma figura pública. Constrangedor para as pessoas por ele ser conhecido? Será que é constrangedor encontrar o Marco Nanini ou a Cláudia Leite em algum aeroporto, só porque eles são pessoas conhecidas? Acho que não é bem isso. O problema está no olhar. Deve ser delicioso ser olhado com admiração, mas ser olhado com indignação deve ser torturante. Tenho pra mim que não suportam serem olhados com reprovação, tão acostumados estão com olhares de adoração. Esse é um dos motivos, o outro é a vaidade. Essa turma de pastores não se esconde mais à sombra do Onipotente, mas em jatinhos particulares. Daqui um tempo necessitarão de iates para levar a salvação às ilhas do mundo inteiro. Acho que a minha tese está correta, apesar de sua aparência boba.
Tem outra coisa que percebo. Se eles têm medo do olhar é porque o olhar incomoda; se incomoda, é porque gera sentimento de culpa; se gera sentimento de culpa é porque eles sabem que algo está muito errado.
Que poder tem um olhar! Jesus sempre utilizou o olhar para dizer o que sentia. Olhou bem dentro dos olhos de Pedro na noite em que foi preso. O peso do olhar de Jesus esmagou o pescador por completo. Nem uma palavra foi dita. Jesus apenas olhou. E Pedro chorou amargamente.
Os fujões turbinados conseguem se esconder do olhar das pessoas, mas eu creio absolutamente que não conseguirão se esconder, nem no céu nem na terra, do olhar e do acerto de contas de Cristo Jesus. Esse dia vai chegar, sim, esse dia vai chegar!
By Rosane de Castro/Setembro/2010
Thursday, September 16, 2010
Telecandidatos
Quando vejo a propaganda eleitoral me sinto uma jurada de TV em um teste para telenovelas. Os que passarem no teste irão para suas respectivas novelas: a das seis (deputados), onde só tem idiota e quer porque quer passar por inofensiva, mas de inofensiva não tem nada; a das sete (senadores), que diz ter criatividade, mas na realidade é uma repetição de velho folhetim; e por fim a poderosa novela das oito (presidência), onde todo mundo se mata para presidir uma METALÚRGICA.
E nós, impotentes e indefesos telespectadores, temos que escolher. Escolher quem tem mais talento para fingir, quem melhor vende a ilusão de que existe um túnel. Não, não escrevi errado. Não estou querendo escrever "luz no fim do túnel". Nesses tempos amargurados, luz no fim do túnel é sonhar alto demais.
By Rosane de Castro/ Setembro/2010
Monday, September 13, 2010
Joaquim Sabão
Quando eu era criança, morava no Jardim América o Joaquim Sabão. Ele tinha essa alcunha por que adorava comer sabão Pavão (o mais famoso e vendável da época) com manteiga Itacolomy. Nessa época, sabão era vendido somente em barra. Os mais abastados compravam uma barra completa, ou várias barras; os pobres compravam meia barra, um quarto. Minha mãe tinha uma bodega e quase todos os dias o Joaquim comprava meia barra de sabão Pavão e um pouco de manteiga Itacolomy, que era vendida a granel. Lembro que mamãe vendia a manteiga embrulhada em um papel de pão, daquele bem grosso. Pois bem, o Joaquim passava a Itacolomy no sabão e nhoc! No início mamãe nem imaginou que fosse pra comer; é que o Joaquim Sabão não comia na frente da minha mãe, pois desconfiava que ela não vendesse mais, e foi o que aconteceu. Horrorizada com a descoberta, mamãe nunca mais vendeu sabão pro Joaquim, mas ele achou outra mercearia e continuou comendo a estranha iguaria, até cair durinho da silva num leito de hospital. Ainda lembro o velório do Joaquim Sabão. Os amigos de copo foram em peso e fizeram uma homenagem ao Joaquim. Adivinha como? Puseram no caixão do defunto uma barra de sabão Pavão, claro, completamente besuntada de manteiga Itacolomy. Um dos amigos, muito triste e bêbado, falou baixinho para o companheiro ao lado, como que para consolá-lo: "Se ele morreu de consciência limpa, eu não sei, mas taí um cabra que morreu de estômago lavado e enxaguado!"
Saturday, September 04, 2010
Monday, August 23, 2010
Dez Comentários Sobre Um Domingo Na Serra do Lajedo - Texto 1
Passei um domingo na Serra do Lajedo. Aninha me convidou pra uma festa de casamento de um casal parente seu. Cinqüenta anos de casados eles iam fazer, portanto, o acontecimento merecia um festão. Eu nunca havia ido á uma festa no interior, só conhecia de ouvir falar.
Subimos a serra no domingo bem cedinho da manhã, eu, Costa Jr., Aninha e suas irmãs. Ana me disse que o nome verdadeiro é lajeiro, porém, acho que a palavra lajedo se encaixa mais. A palavra deriva de laje, pedra pavimentada, rocha de superfície plana, abundante naquela região.
Fomos por uma estrada de piçarra, de chão seco, árido. A certa altura paramos o carro, descemos e ficamos contemplando a paisagem lá em baixo. Maranguape e Itapebussú despertavam num espreguiçamento que somente quem é nordestino pode compreender. O nordestino não é desses que pula da rede num salto. Primeiro ele se espreguiça lennntamennnte, bem devagarzinho, que nem gato quando acorda, se esticando todo. Depois desse ritual “espriguiçatório”, o dia começa.
Alguém me falou de assaltos na estrada. Os ladrões param o ônibus em plena serra e tomam os poucos pertences dos viajantes. Que triste! O último lugar que se pensa em assalto é numa estrada de terra em cima da serra. Aquele ambiente não tem absolutamente nada a ver com esse tipo de coisa e me impressionou o fato dessas coisas de cidade grande ter chegado até lá. O mal subiu a serra de pedra pavimentada. Lembrei dos salteadores dos quais Jesus fala na parábola do Bom Samaritano. Imaginei o pobre homem da parábola caído naquela estrada solitária e poeirenta e fiquei me perguntando se por ali existia um bom samaritano. Mais tarde, numa situação inesperada e hilariante, descobri que a Serra do Lajedo é habitada por bons samaritanos, sim.
Lembranças e Saudades Inesperadas - Texto 2
Quando chegamos, fomos direto para a casa do Marcos, irmão da Ana, onde tomamos café e depois seguimos para a casa da sua mãe que fica bem em cima da serra. Nem bem cheguei e a singeleza da casa, o cheiro do bananal, o céu profundamente azul e a simpatia da dona da casa me conquistaram. Adentrei até a cozinha e me deparei com um fogão à lenha em pleno funcionamento. O fogão me reportou à infância, onde no quintal de casa, em plena capital, meu pai mandou construir um fogão à lenha. Nele se cozinhava feijão, um remédio chamado Cibazol e doces. A memória também reviu o “quarto do carvão”, bem ao lado do fogão e que eu achava super misterioso. É impressionante como a memória pode ressuscitar odores. A mente humana é recipiente de cheiros, nenhum se perde, todos ficam guardados, esperando o olho ver alguma coisa que traga lembrança e que abra a porta, aí eles podem sair e festejar.
No fogão da Raimundinha (mãe da Ana), uma panela cheia de favas cozinhava pacientemente. O cheiro era bom, mas por minutos o cheiro do Cibazol, do quarto do carvão e dos doces rivalizou com as favas. Por uns minutos apenas, esses odores passearam pelas minhas narinas e trouxeram uma saudade que eu nem sabia que tinha. Fiquei quieta, sem querer sair da cozinha, me sentei num banquinho de madeira, de frente pra janela que dá para o terreiro e esperei os odores se acalmarem. Eles foram embora, mas deixaram as primeiras lembranças puxando outras lembranças que, por sua vez, traziam saudades diferentes. Todo esse furdunço emocional foi só porque o olho viu. Saudade boa, gostosa. Bem que Jesus falou que “se o teu olho for bom, todo o teu corpo terá luz”. Meu olho pousou num fogão à lenha e o meu coração foi iluminado de saudade boa.
Quando os odores da infância foram embora, satisfeitos, o cheiro da fava reinou. Cheiro bom. Fiquei com água na boca, doida pra provar da iguaria típica da Serra do Lajedo, porém, os felizardos eram os porcos que chafurdavam no quintal. Na casa da Raimundinha não há acepção do que quer que seja. Onde se cozinha comida de gente se faz comida de bicho também. O fogão à lenha é para todos. A fava de cheiro bom era para os porcos. Me deu vontade de comer delas, mas fiquei com vergonha de confessar. Tive vontade de parodiar Jesus e dizer pra Raimundinha “não lanceis vossas favas aos porcos”! Disseram-me que as favas para os porcos são amargas, só eles conseguem comer. Aí me conformei. Sendo assim...
De repente, surgiu uma panela de batata doce, colocada no fogão pra cozinhar, depois outra com carne de porco pra assar; uma garrafa de café quentinho e tomates minúsculos apanhado no terreiro. Em poucos minutos estávamos bebendo café com batata doce e carne de porco assada com farofa e cebola. Isso era apenas pra “forrar o bucho”, pois a festa ia começar ao meio-dia. Ficamos ali, jogando conversa fora e trazendo alegria pra dentro do peito.
Casa Sem Alma - Texto 3
Aninha percebeu meu carinho pelo fogão da sua mãe e me convidou a ir até a casa onde seu pai nasceu e ver um típico fogão à lenha. É que o fogão da Raimundinha foi revestido de cerâmica. Você já viu um matuto de verdade, metido num terno e gravata, no meio do roçado? É o fogão à lenha da Raimundinha. Todo arrumado, todo querendo ser moderno, porém, adornado por aquelas panelas “carimbadas” pelo tempo, amassadas, com resquícios de carvão, que fazem a comida parecer mais gostosa.
A Ana quis me mostrar um original, com a idade de 84 anos, um matuto vestido de matuto. Descemos uma ladeira íngreme, cheia de pedras, por entre o bananal e tocamos pra lá. Que casa maravilhosa surgiu diante dos meus olhos deslumbrados. Absolutamente sertaneja; preservada em quase tudo. Digo em quase tudo, porque quando fomos para a cozinha ver o fogão à lenha já ancião, ele não estava mais lá, não existia mais. Alguém mandou demolir o velhinho. Os olhos da tia da Ana se encheram de lágrimas quando contou como e porque ele foi demolido. O olho dela não via mais o velho fogão e a saudade ruim, aquela que dói, remoia seu peito. Falou do fogão como se fala de um bom amigo, de um bom companheiro que morreu e deixou muitas saudades. Às vezes, o que os olhos não vêem o coração sente dobrado. A casa é linda, mas sem o fogão é como se ela não tivesse alma. Roubaram a alma da pobre casa. Ele se foi e deixou como prova de sua existência o preto da fumaça nas telhas, o cheiro de lenha queimando e embriagando o ar. Pobre casa desfalcada! Como adentrar no céu das iguarias, da comida cheirosa e gostosa sem um fogão à lenha? Mas Deus é Pai, Bom e Misericordioso, pois adornou as mãos da Dona Fransquinha (tia da Ana e moradora da casa) e as fez independente de fogões. Não é que ela nos ofereceu uma galinha caipira com pirão de farinha feito do caldo, daqueles de fazer nego chorar de alegria? E feito num fogão a gás? Que delícia, meu Deus! Depois peguei um caneco de alumínio bem areado, mergulhei no fundo do pote e bebi a água mais gostosa da minha existência. Podia dizer do Salmo 23 “preparas uma galinha caipira para mim na presença dos meus amigos, unges o meu coração de alegria, o meu copo transborda de prazer”.
A ausência do fogão foi compensada pelo restante da casa. Portas com trancas de madeira; piso de antigas lajotas de barro, daquelas que se tem que “aguar” quando o dia tá quente. A pia de lavar louça ainda é a janela da cozinha que dá para o quintal, com a bacia de alumínio sustentada por uma mesa de ripas de madeira. As esponjas de lavar panelas ainda são as buchas vegetais e as cabaças ainda servem de recipientes. “Ainda” é uma palavra que cabe muito bem na velha casa da Serra do Lajedo. Lá, as coisa boas e antigas “ainda” funcionam, menos o velho e saudoso fogão à lenha.
Quando a gente conversa com a dona Fransquinha, a gente entende que modernidade não a impressiona, não a escraviza. Ela é livre. A geladeira está lá e ajuda a preservar os alimentos, mas quando a goela pede água é o pote que reina. E por falar em reinado, bem no alto do monte coberto de bananeiras que fica ao lado da casa, impera soberana e absoluta uma gigantesca rocha, que mais parece um altar judaico. A gente olha para o alto e ela está lá, imponente, soberba, nos lembrando da nossa pequenez. Parece que flutua e temos a impressão que ela poderá rolar na primeira chuvarada que der, mas está lá há anos, escultural e bela. Fiquei com vontade de subir, deitar óleo nela e adorar ao Criador. Jesus diz que devemos construir nossa casa sobre a rocha, pois só assim as tempestades não a derrubam. O avô da Ana levou esse conselho ao pé da letra. A senhora casa de 84 anos foi construída sobre pedras imensas, sobre os lajedos ofertados pela Natureza. A casa é simples. Suas paredes são brancas, seu chão e teto, de barro, matéria-prima que Deus usou para fabricar o Homem, mas seus alicerces são rochas. Parece com aquela pessoa que ama O Senhor de coração. Tem aparência frágil e simples, mas sua vida é alicerçada nos lajedos divinos, na Rocha Viva que está no céu.
O Cão de Guarda - Texto 4
Já perto do meio-dia voltamos, sem antes eu levar uma bela mordida do cão de guarda que não arreda as patas da casa. A culpa foi toda minha. Quando cheguei na casa, ele estava deitado na varanda, dentro de casa. Eu o afaguei e ele recebeu o afago abanando o rabo. Quando o cão de guarda está dentro de casa e o visitante também, ele sabe que aquela pessoa foi aprovada pelo dono casa e curte o carinho, mas estando no terreiro, ele cumpre seu papel direitinho e não permite intimidades. Está de serviço e hora de trabalho não é hora de brincadeiras. Eu esqueci essa lei canina e fui afagá-lo fora da casa. Me dei mal. Ele agarrou meu braço e senti quando seus dentes entraram na carne do meu braço. Que dor! Que susto! Aflição! Dona Fransquinha lavou o ferimento com sabão virgem e me tranqüilizou que ele é vacinado (mesmo assim, tomei duas injeções anti-rábicas). Voltei com muita dor no braço, tendo de encarar a ladeira que, se não foi lá essas facilidades toda descer, imagine subir. Subi no maior esforço, com o braço latejando e ainda tremendo do susto. No meu braço está a marca da fidelidade e da competência canina. “Longe de quem come, e mais longe ainda de quem guarda!”, este é o lema dos cães lajedienses.
O Ovo - Texto 5
Cheguei esbaforida na casa da Ana. Subir a ladeira não foi fácil. Quando cheguei, me joguei numa cadeira da varanda, esperando o cansaço diminuir. Olhei para o lado e vi em cima de uma esteira, um ovo. Fui lá e peguei. Estava quentinho e eu achei que era um ovo cozido, jogado ali por uma das crianças da casa. Mostrei pro Costa e ele me disse que a galinha havia posto naquele momento, por isso estava quentinho. Bem, pra desculpar minha ignorância, podia não ser um ovo cozido e sim, um ovo “cuzido”...rsrs...
A Festa - Texto 6
Tomamos banho com água congelada (rsrs) e fomos para a festa. Quem já tomou banho com água de caixa d’água em cima da serra, me entende. Eita água fria. Pois bem, tocamos para a festa de casamento. A casa era pequena, mas a quantidade de comida era grande, enorme, macro. Imagine um banquete romano regado a cachaça em vez de vinho. Três carneiros foram sacrificados para o ritual de cinqüenta anos de casamento; fora as galinhas caipiras, as lingüiças e a carne de gado. Sem contar ainda as saladas, arroz e feijão em abundância e frutas, muitas frutas. Se eu fosse chegada a uma cachacinha e forró, tava feita. De longe ouvi o forró troando, mas o que eu queria mesmo era comer numa festa interiorana, ter essa experiência que, confesso, foi inesquecível e agradabilíssima, apesar dos acontecidos. Uma coisa que me impressionou muito foi o fato de a casa estar cheia de gente. Claro que uma festa enche uma casa de gente, principalmente quando se trata de casamento, mas TODO MUNDO ser da mesma família? Peraí! Acho que a única “não-abreu” era eu. Até do meu amigo Costa Jr. desconfiei ser um Abreu, pois a cumplicidade com que ele adentrou a casa foi interessante; parecia que já conhecia o povo, a casa. E começou um festival de “aquela é minha tia, aquele é meu primo, aquela outra, minha prima segunda...”, etc., etc. Era mais fácil saber quem NÃO era da família: eu mesma. Para quem não sabe, vai a dica: em cima da serra do Lajedo tem a “Abreulândia”, terra dos Abreus.
A Cumplicidade Está no Pote - Texto 7
É interessante perceber que nessas festas todo mundo entra, come e bebe. Ninguém se importa, ninguém se preocupa, ninguém desconfia de ninguém. Ninguém quer saber quem é aquele que acabou de chegar, entrou e comeu fartamente, só sabe que é Abreu, isso é o suficiente. A casa é de todo mundo. Todos dividem tudo, inclusive a caneca de tirar água do pote. Contei que na casa da dona Fransquinha tinha um pote com caneca, etc., porém, a caneca é somente para tirar água do pote, não se pode beber nela. Na festa, o sistema era diferente. A caneca tanto servia para tirar água do pote como para beber. E era somente uma caneca. Ali, tive uma aula prática e aprendi o que é cumplicidade. Todo mundo que tava com sede ia ao pote, metia a caneca e bebia. E as crianças? As crianças também e ainda pondo em prática os ensinamentos de que água é coisa valiosa no sertão (principalmente nesses tempos sem chuva), portanto, tem que economizar. Elas bebiam e o que sobejava, devolviam ao pote. Só depois de um tempão foi que observei o fato. Tarde demais! Quando cheguei à festa estava com muita sede e ainda embriagada pelo sabor da água do pote da Dona Fransquinha, pedi um copo d’água toda contente e bebi cheia de alegria. Fazer o quê, né?
A Boa Samaritana da Serra do Lajedo - Texto 8
Depois de comer tudo que tinha direito e o que não tinha também, o dono da casa passou pela nossa mesa (estava eu, o Costa e a Ana) e colocou uma BACIA cheia de carne de carneiro assada bem na nossa frente. Eu disse uma BACIA. Só pra nós três. Fui inventar de dar uma beliscadinha de nada, porém, a carne era de uma maciez capaz de fazer qualquer desdentado triturá-la; estava no ponto (nem salgada, nem insossa) e o cheiro, então?...hum... Não resisti e mandei ver.
Foi em tremenda aflição que conheci de perto a hospitalidade dos lajedienses. Hospitalidade mesmo, no sentido da palavra. É fácil ser hospitaleiro quando conhecemos a pessoa. Por isso, disse que a Serra do Lajedo é habitada por bons samaritanos. Depois de comer bastante, sem costume dessas festas, acostumada a pizzarias, lanchonetes, aniversários regados ao creme de galinha, essas coisas de cidade grande e ainda somando ao susto de ter sido mordida pelo cachorro, senti uma das maiores dores de barriga da minha vida. Não consigo traduzir como era a dor. Parecia que tinham colocado meu intestino numa máquina de lavar, na máxima velocidade. Comecei a suar frio e pedi socorro a Aninha, que prontamente quis me levar ao banheiro, mas só tinha um banheiro na festa e eu achei melhor pegar o carro e ir até a casa do Marcos, seu irmão, o lugar mais próximo. O Costa foi dirigindo e as ruas do vilarejo são cheias de lombadas naturais, feitas de barro vermelho, o que fazia com que a agonia do intestino aumentasse. Chegamos na casa do Marcos e estava fechada. O desespero tomou conta do meu ser, principalmente do meu intestino, coitado, que se apertava aflito, pedindo para ser aliviado. A dor de barriga se misturou com a angústia de não ter pra onde ir. Comecei a orar, a pedir misericórdia a Deus e como sempre, Ele foi mais uma vez Bom e Misericordioso para comigo. Aninha se lembrou de uma amiga, Dona Fátima, e fomos lá. Agora imagine, fazia tempos Ana não via essa senhora e chegou de repente na pequena fazenda da Dona Fátima, acompanhada da minha pobre figura pálida, aflita, desesperadamente necessitada de um banheiro. Ana nem falou direito com a anfitriã, foi logo pedindo para eu usar o banheiro. Dona Fátima poderia ter ficado indignada, mas quando olhou pra mim sentiu pena, tenho certeza, pois, sem delongas me deixou entrar.
Caminhei para o banheiro como um budista caminha para o Nirvana: disposta a me esvaziar de tudo. Quando abri a porta e vi o vaso sanitário, a alegria foi tão grande que (Deus me perdoe), comparei aquele pequeno espaço com o Paraíso. E quando sentei? E quando fiz o que tinha que fazer? Sentei e tudo se fez novo. Nunca havia orado naquelas circunstâncias, mas posso garantir que naquele momento minha oração foi uma das mais fervorosas e agradecidas que orei.
Depois que saí do banheiro (morrendo de vergonha), me apresentei. Pensei que a dona Fátima fosse me despachar. Qual o que! Dona Fátima me ofereceu remédio e armou uma rede na varanda pra eu deitar e descansar. Uma rede novinha, limpinha e cheirosa.
A casa da dona Fátima é um pequeno Paraíso na serra do Lajedo. Ela é viúva, mora com os filhos e cria gado. Sua casa é linda, toda avarandada, cheia de paz. Na sua cozinha tem um enoooorme fogão à lenha, onde ela cozinha favas, feijão e carne. No forno do fogão a gás, dona Fátima faz bolos deliciosos. Sei disso porque acabei não resistindo quando, ao acordar do cochilo, ela me ofereceu uma fatia de um deles, com café. E a vida continua. Ah, dona Fátima, se todos fossem iguais a você...