Thursday, September 30, 2010

SEMEADURA DESONESTA

Graças a Deus que a campanha eleitoral chegou ao fim. Mesmo que haja segundo turno, o fim está próximo. Fim da barulheira, dos pedidos de votos, das discussões, das panfletagens, da tensão.
Gostaria de deixar bem claro que eu sou cristã, que freqüento uma igreja evangélica e sou atuante por lá, fazendo parte da escola bíblica; e o mais importante: creio em Jesus como meu Salvador. Porém, quero deixar registrado o quão decepcionada fiquei com a campanha mesquinha que muitos, mas muitos evangélicos fizeram contra a candidata do PT Dilma Rousseff. Recebi dezenas de e-mails onde se dizia que Dilma havia declarado em entrevista que nem mesmo Jesus conseguirá impedir de ela ganhar essa eleição. Mergulhei em dezenas de sites procurando tal declaração e nada; parti pro Youtube e nada encontrei. Foi aí que a “ficha caiu”. Que tempo desperdicei procurando a tal “declaração arrogante”. Entendi que era mais uma das semeaduras de notícias falsas tão comuns nas campanhas eleitorais. O que me deixou triste foi entender que esse tipo de baixeza saiu do meio evangélico. O último reduto onde eu achava que esse tipo de coisa não aconteceria era na comunidade evangélica. Ledo engano. Nós evangélicos estamos que nem o povo israelita quando liberto por Moisés. O povo saiu do Egito, mas o Egito não saiu dele. Os israelitas tiveram que apanhar muito no deserto para aprender sobre o real caráter de Deus, pois até então, construíram um deus que existia só na imaginação deles. Quando se depararam com o Verdadeiro a coisa ficou muito complicada.
Quem acompanha, mesmo que seja um pouquinho, a política desse país, sabe que a MAIORIA dos deputados evangélicos eleitos se corrompeu. Todos eles tinham o mesmo discurso desses que estão aí agora. Diziam que era preciso votar neles para garantir que certas leis não fossem aprovadas. Sabemos o resultado. Teve político crente que orou com um punhado de propina na mão. Todo mundo viu na TV.
Os marketeiros evangélicos pedem pros crentes tomarem cuidado em quem vão votar e falam das leis que tramitam no congresso. Sutilmente pedem voto para candidatos evangélicos. Não o fazem abertamente porque sabem do que aconteceu com a turma da eleição passada, mas de forma quase imperceptível querem convencer que votar em candidato evangélico é mais seguro. Me poupem! Se o pessoal empenhado no marketing deles faz isso que fizeram com a Dilma, imagine eles... Eu, hein!

Rosane de Castro/Outubro/2010

Friday, September 17, 2010

FUJÕES TURBINADOS

Tava agorinha mesmo no blog Pão&Vinho lendo certa matéria sobre pastores e seus jatinhos. Uma turma de pastores cheios do poder aquisitivo comprou, cada um, seu aviãozinho particular. O mais "em conta" custou "apenas" nove milhões de dólares. Uma bagatela, afinal, o deus da Teologia da Prosperidade está aí pra encher a conta deles de grana. Essa turma diariamente está na mídia e são os donos dos grandes templos evangélicos do Brasil. Eles dizem que precisam se locomover para outros estados, até mesmo outros países, para pregar a Palavra de Deus. Segundo eles, o jatinho facilita a salvação de muitas almas perdidas. Sinceramente, não quero ser maldosa, tenho conversado com O Senhor do céu e da terra e tenho prometido tentar ver bondade em tudo, mas pastor com jatinho particular me inquieta, me inquieta muito. Segundo informações recebidas, possuir um negócio desse não sai barato. Tem que pagar o aluguel do hangar (não é uma garagem qualquer); tem que ter piloto e co-piloto (não é salário de motorista); pagar manutenção (não estamos falando de um carro), combustível, imposto. Tudo isso (tirando o imposto anual) custa, por mês, mais de cinquenta mil reais. Gente, cinquenta mil reais por mês só para manter um jatinho.
Medito sobre as desculpas que eles dão. Medito, medito e percebo que o motivo não é bem o que eles dizem. Vejam, esses pastores estão diariamente envolvidos com a mídia até o pescoço. Todos os dias eles vendem produtos que vão de livros até suor e pedem dinheiro aos fiéis o tempo que durar o culto. Como estão na mídia diariamente, ficam conhecidos, claro.
Sabemos que existem dois públicos para os quais os tais pastores estão expostos: evangélicos e não-evangélicos. Os evangélicos eles encaram numa boa, afinal, são os responsáveis pela existência e manutenção dos jatinhos. Não há problema em encontrá-los nas igrejas, eventos, etc., eles sabem manipular bem essa gente. É certo que existe evangélico que nutre verdadeiro pavor dessa turma de "aviadores", mas é uma minoria, não preocupa nem um pouco a turma que quer ir pro céu de qualquer jeito, de preferência, a bordo de um Cesna Executivo. Agora, os não-evangélicos é outra história. Encontrar com essas pessoas e ficar cara a cara com elas em aeroportos, restaurantes, lojas, etc., deve ser barra. Os tais pastores estão acostumados à proteção dos púlpitos, das suas multidões de fiéis, dos seus muitos bajuladores. Cercados assim, eles não precisam encarar os não-evangélicos, que por não terem nenhum compromisso com a igreja, abrem a boca e ridicularizam mesmo. Essa proteção rola no ambiente deles, mas nos aeroportos é diferente. Chegar uma hora antes do vôo e ficar esperando o momento do embarque deve ser torturante. Todos aqueles olhares indignados. Pode parecer besteira minha, mas um deles admitiu. Disse que era constrangedor para as pessoas encontrá-lo no aeroporto, já que é uma figura pública. Constrangedor para as pessoas por ele ser conhecido? Será que é constrangedor encontrar o Marco Nanini ou a Cláudia Leite em algum aeroporto, só porque eles são pessoas conhecidas? Acho que não é bem isso. O problema está no olhar. Deve ser delicioso ser olhado com admiração, mas ser olhado com indignação deve ser torturante. Tenho pra mim que não suportam serem olhados com reprovação, tão acostumados estão com olhares de adoração. Esse é um dos motivos, o outro é a vaidade. Essa turma de pastores não se esconde mais à sombra do Onipotente, mas em jatinhos particulares. Daqui um tempo necessitarão de iates para levar a salvação às ilhas do mundo inteiro. Acho que a minha tese está correta, apesar de sua aparência boba.
Tem outra coisa que percebo. Se eles têm medo do olhar é porque o olhar incomoda; se incomoda, é porque gera sentimento de culpa; se gera sentimento de culpa é porque eles sabem que algo está muito errado.
Que poder tem um olhar! Jesus sempre utilizou o olhar para dizer o que sentia. Olhou bem dentro dos olhos de Pedro na noite em que foi preso. O peso do olhar de Jesus esmagou o pescador por completo. Nem uma palavra foi dita. Jesus apenas olhou. E Pedro chorou amargamente.
Os fujões turbinados conseguem se esconder do olhar das pessoas, mas eu creio absolutamente que não conseguirão se esconder, nem no céu nem na terra, do olhar e do acerto de contas de Cristo Jesus. Esse dia vai chegar, sim, esse dia vai chegar!

By Rosane de Castro/Setembro/2010

Thursday, September 16, 2010

Telecandidatos

Não sei em quem votar. Isso pode parecer bobagem, mas dá uma tristeza no peito não saber em quem votar. Antigamente eu sabia. Mas antigamente era antigamente. Acho que meus quase cinquenta anos estão pesando; tô ficando ranzinza, chata e amargurada com esse negócio de eleição. Antes, eu escolhia meu candidato e ponto final. Brigava por ele, acreditava, confiava, tinha certeza que ele era o melhor para o país, mesmo que não fosse, mas era o MEU candidato, por isso não aceitava que falassem mal. Nas eleições de antigamente eu podia escolher entre um candidato ruim (o adversário do meu candidato) e um candidato bom (o meu candidato). Hoje é estranho. Não acho meu candidato bom o suficiente; não tenho certeza se ele é o melhor para o país; não sinto confiança no que ele fala.
Quando vejo a propaganda eleitoral me sinto uma jurada de TV em um teste para telenovelas. Os que passarem no teste irão para suas respectivas novelas: a das seis (deputados), onde só tem idiota e quer porque quer passar por inofensiva, mas de inofensiva não tem nada; a das sete (senadores), que diz ter criatividade, mas na realidade é uma repetição de velho folhetim; e por fim a poderosa novela das oito (presidência), onde todo mundo se mata para presidir uma METALÚRGICA.
E nós, impotentes e indefesos telespectadores, temos que escolher. Escolher quem tem mais talento para fingir, quem melhor vende a ilusão de que existe um túnel. Não, não escrevi errado. Não estou querendo escrever "luz no fim do túnel". Nesses tempos amargurados, luz no fim do túnel é sonhar alto demais.

By Rosane de Castro/ Setembro/2010

Monday, September 13, 2010

Joaquim Sabão


Quando eu era criança, morava no Jardim América o Joaquim Sabão. Ele tinha essa alcunha por que adorava comer sabão Pavão (o mais famoso e vendável da época) com manteiga Itacolomy. Nessa época, sabão era vendido somente em barra. Os mais abastados compravam uma barra completa, ou várias barras; os pobres compravam meia barra, um quarto. Minha mãe tinha uma bodega e quase todos os dias o Joaquim comprava meia barra de sabão Pavão e um pouco de manteiga Itacolomy, que era vendida a granel. Lembro que mamãe vendia a manteiga embrulhada em um papel de pão, daquele bem grosso. Pois bem, o Joaquim passava a Itacolomy no sabão e nhoc! No início mamãe nem imaginou que fosse pra comer; é que o Joaquim Sabão não comia na frente da minha mãe, pois desconfiava que ela não vendesse mais, e foi o que aconteceu. Horrorizada com a descoberta, mamãe nunca mais vendeu sabão pro Joaquim, mas ele achou outra mercearia e continuou comendo a estranha iguaria, até cair durinho da silva num leito de hospital. Ainda lembro o velório do Joaquim Sabão. Os amigos de copo foram em peso e fizeram uma homenagem ao Joaquim. Adivinha como? Puseram no caixão do defunto uma barra de sabão Pavão, claro, completamente besuntada de manteiga Itacolomy. Um dos amigos, muito triste e bêbado, falou baixinho para o companheiro ao lado, como que para consolá-lo: "Se ele morreu de consciência limpa, eu não sei, mas taí um cabra que morreu de estômago lavado e enxaguado!"