Depois de comer tudo que tinha direito e o que não tinha também, o dono da casa passou pela nossa mesa (estava eu, o Costa e a Ana) e colocou uma BACIA cheia de carne de carneiro assada bem na nossa frente. Eu disse uma BACIA. Só pra nós três. Fui inventar de dar uma beliscadinha de nada, porém, a carne era de uma maciez capaz de fazer qualquer desdentado triturá-la; estava no ponto (nem salgada, nem insossa) e o cheiro, então?...hum... Não resisti e mandei ver.
Foi em tremenda aflição que conheci de perto a hospitalidade dos lajedienses. Hospitalidade mesmo, no sentido da palavra. É fácil ser hospitaleiro quando conhecemos a pessoa. Por isso, disse que a Serra do Lajedo é habitada por bons samaritanos. Depois de comer bastante, sem costume dessas festas, acostumada a pizzarias, lanchonetes, aniversários regados ao creme de galinha, essas coisas de cidade grande e ainda somando ao susto de ter sido mordida pelo cachorro, senti uma das maiores dores de barriga da minha vida. Não consigo traduzir como era a dor. Parecia que tinham colocado meu intestino numa máquina de lavar, na máxima velocidade. Comecei a suar frio e pedi socorro a Aninha, que prontamente quis me levar ao banheiro, mas só tinha um banheiro na festa e eu achei melhor pegar o carro e ir até a casa do Marcos, seu irmão, o lugar mais próximo. O Costa foi dirigindo e as ruas do vilarejo são cheias de lombadas naturais, feitas de barro vermelho, o que fazia com que a agonia do intestino aumentasse. Chegamos na casa do Marcos e estava fechada. O desespero tomou conta do meu ser, principalmente do meu intestino, coitado, que se apertava aflito, pedindo para ser aliviado. A dor de barriga se misturou com a angústia de não ter pra onde ir. Comecei a orar, a pedir misericórdia a Deus e como sempre, Ele foi mais uma vez Bom e Misericordioso para comigo. Aninha se lembrou de uma amiga, Dona Fátima, e fomos lá. Agora imagine, fazia tempos Ana não via essa senhora e chegou de repente na pequena fazenda da Dona Fátima, acompanhada da minha pobre figura pálida, aflita, desesperadamente necessitada de um banheiro. Ana nem falou direito com a anfitriã, foi logo pedindo para eu usar o banheiro. Dona Fátima poderia ter ficado indignada, mas quando olhou pra mim sentiu pena, tenho certeza, pois, sem delongas me deixou entrar.
Caminhei para o banheiro como um budista caminha para o Nirvana: disposta a me esvaziar de tudo. Quando abri a porta e vi o vaso sanitário, a alegria foi tão grande que (Deus me perdoe), comparei aquele pequeno espaço com o Paraíso. E quando sentei? E quando fiz o que tinha que fazer? Sentei e tudo se fez novo. Nunca havia orado naquelas circunstâncias, mas posso garantir que naquele momento minha oração foi uma das mais fervorosas e agradecidas que orei.
Depois que saí do banheiro (morrendo de vergonha), me apresentei. Pensei que a dona Fátima fosse me despachar. Qual o que! Dona Fátima me ofereceu remédio e armou uma rede na varanda pra eu deitar e descansar. Uma rede novinha, limpinha e cheirosa.
A casa da dona Fátima é um pequeno Paraíso na serra do Lajedo. Ela é viúva, mora com os filhos e cria gado. Sua casa é linda, toda avarandada, cheia de paz. Na sua cozinha tem um enoooorme fogão à lenha, onde ela cozinha favas, feijão e carne. No forno do fogão a gás, dona Fátima faz bolos deliciosos. Sei disso porque acabei não resistindo quando, ao acordar do cochilo, ela me ofereceu uma fatia de um deles, com café. E a vida continua. Ah, dona Fátima, se todos fossem iguais a você...
1 comment:
Menina, e tu ainda foi comer bolo depois de morrer de cagar? Tu não tem jeito não! Morri de rir. Muito bom! kkkkkkk
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