Trabalho no vigésimo andar de um edifício no centro da cidade.
Toda manhã, egoisticamente, desejo encontrar o elevador vazio pois assim subo mais rápido, evitando aquelas paradas em cada andar.
Semana passada consegui. Entrei sozinha e triunfante no elevador, reinando absoluta um reinado de vinte andares.
No terceiro andar a porta se abriu e, para meu desconforto, entraram duas mulheres que resolveram “dar um passeio” de elevador, comentando a frase schopenhauniana de que "o que sobe tem que descer"; no quinto, um homem entrou com uma pilha de revistas. A pilha cobria seu rosto, ele tropeçou e as revistas caíram, adivinha em cima de quem? Já comecei a me irritar. No sétimo surgiu um homenzarrão suado, que pôs a mão na porta do elevador, evitando que a mesma se fechasse, para dar os dois últimos tragos no seu cigarro. Tivemos que esperar, é claro, senão ia rolar uma confusãozinha matinal.. No décimo subiu uma turma cujo serviço é ficar implorando, pedindo pelo amor de Deus aos transeuntes que façam cartão de crédito, então resolveram começar o serviço ali mesmo.
Eu já estava lá no fundo do elevador com dor no pé e comecei a sentir saudade da enorme fila de todas as manhãs. Nesse dia, não sei por que cargas d’água as pessoas que estavam nos andares de cima e iam descer, resolveram subir. No décimo quarto subiu uma turma de estudantes para olhar a vista que dá para o mar e um engraçadinho que estava entre eles, na maior das bagunças, soltou um “pum”. Foi a gota d’água. O sangue me ferveu quando o odor se espalhou no cubículo. Saí sufocada, abrindo caminho, pedindo licença e desci no décimo sexto andar; junto comigo desceu a metade, inclusive o pobre coitado da pilha de revistas, reclamando da falta de respeito, enquanto os “peidões” de plantão ficaram às gargalhadas. Como trabalho no vigésimo andar, subi pelas escadas “fumando numa quenga”, como diz a filosofia cearense.
Nunca mais quis saber de elevador individual.
Às vezes quero fazer a mesma coisa com a minha vida. Quero driblar os dias e os acontecimentos para chegar mais rápido nas coisas que almejo. Não quero ficar na espera e aí dá tudo errado quando quero apressar as coisas e fazer o que bem entendo. Sempre encontro coisas desagradáveis pelo caminho. Eu mesma me torno vítima da minha pressa e egoísmo. Quero que Deus ME atenda logo, não importa os outros, quero ir sozinha e na frente.
É impossível! Temos que caminhar juntos e esperar o elevador da vida abrir a porta para saltarmos no nosso destino, na hora e dia certos. E isso, só Deus é que sabe.
Nota de Sofia: A ilustração é um trabalho fotográfico de Mirna, "Tristeza e Solidão".
Thursday, December 07, 2006
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment