Quando eu era menina, chuva era sinal de festa. Lembro que eu ficava olhando pro céu durante horas quando chegava o início do ano, esperando que a chuva caísse. Além da chuva em si que deixava o céu “acizentado”, o tempo friinho, havia a existência das “biqueiras”. Meu Deus! Tomar banho na chuva debaixo de uma biqueira pela manhã, era tudo que uma criança desejava na vida, principalmente pras crianças do subúrbio. Naquele tempo, no final dos anos 60, piscina para criança suburbana era algo impensável e futurista, e como ir á praia era muito parecido com as aventuras do Indiana Jones devido a “desconjuntura” dos ônibus caindo de velhos e a lonjura do lugar, tomar banho de chuva era nossa grande diversão. Naquela época, menina ou menino “corado” da praia era coisa de gente rica.
Lembro da minha amiga Iracélia. No quintal de sua casa havia pés de bananeira. A Iracélia inventou de cortar um dos troncos e fazer dele uma bóia. É que o nosso bairro ficava tão alagado e a Iracélia era tão magrinha que ela sentava no tronco da bananeira e ele boiava no meio da nossa rua. Era um desbunde. Escondidas da D. Matilde, sua mãe, eu, ela e alguns meninos conseguimos o tronco e o levamos para nos servir de barco. A Iracélia sentou e quando fui eu sentar, a correnteza, que estava forte, levou a Iracélia com tronco e tudo. Foi um Deus nos acuda porque na direção que seguia a correnteza havia (e ainda há) um canal que transbordava e era o terror das mães zelosas. Era eu, a D. Matilde e um bando de homens e garotos correndo atrás do tronco e a Iracélia agarrada nele, aos berros.
Felizmente conseguiram segurar o bicho que bateu num pneu velho, ficando enganchado já bem pertinho do canal. Coitada da Iracélia. Levou um pisa e foi terminantemente proibida de tomar banho de chuva pelo resto do inverno. Foram três meses de vida perdida. E por falar em pisa, que quer dizer no dialeto cearense surra, sova, quando surgiu a pizza no Ceará, criança do subúrbio num queria nem ouvir falar, pois confundia pizza com pisa. Foi assim com o Amancinho, o garoto mais “emcapetado” do bairro.
Nossa turma via TV na casa do Amancinho e o seu Amâncio entrou na sala, falando: - Eu trouxe uma pizza pra vocês! – A correria foi feia. Eu fui a primeira a sair em disparada no rumo da minha casa. Apanhar do próprio pai já era ruim, imagine apanhar do pai de um amiguinho sem ter culpa de nada. Fala sério!
Monday, February 26, 2007
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3 comments:
ADOREI ESTE TEXTO ROSANE, VC É FABULOSA NO SENTIDO LITERAL DA PALAVRA, QUE DE ACORDO COM O AURÉLI, SIGNIFICA: Que não tem existência real; imaginário; inventado/ Relativo à mitologia, à lenda; mitológico, lendário/ Prodigioso, maravilhoso; estupendo; incrível/ Admirável, grandioso - VC PRECISARIA SER INVENTADA SE NÃO EXISTISSE!!!
Eu cresci num subúrbio pertinho da Sofia(o Montese)mas não vivi esse cenário.Lembra de tê-lo observado com os meus irmãos através das grades do portão.Tinha aquela molecada brincando na chuva,tomando banho de bica, jogando bola na rua e correndo quando vinha carro.Mas tomávamos banho na biqeuira de casa.Eram duas.Quando a chuva estava grande,no final da curtição,pegávamos o sabonete e o shampoo e aproveitávamos para completar o banho.
Eu tive uma infância maravilhoso muito parecida com a sua,mudou apenas a cidade a casa o quital,alguns detalhes,mas também esperava a chuva olhando para o céu,tomava banho nas biqueiras,brincava nas poças e ia para a rua esperar as mangas caírem das mangueiras, e quando voltava sempre pegava uma surra de galho de cuia,ou de vassoura de acaí rsrsrsr.
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