Friday, November 24, 2006

Minha Pretenciosa Gota de Sofia


Antes da Flor, a Chuva.

Eu e uma amiga conversávamos sobre o lado emocional do ser humano e ela falou da curiosidade em saber porque as pessoas se desestruturam tanto quando afetadas no lado emocional.
Quando sofremos por estarmos enfermos ou por passarmos dificuldade financeira, sempre tem alguém que nos ajuda e assim nos sentimos amparados de alguma maneira, mas quando a dor é puramente emocional –como por exemplo, uma rejeição amorosa ou a perda de alguém por morte – os amigos, as palavras não parecem fazer efeito. A dor é tão profunda que a solidão é a melhor companheira. Tudo perde o sabor, a cor.
Ao enfrentarmos este tipo de problema começamos a entender o valor do tempo e agradecemos a Deus em silêncio. O tempo é um bisturi nas mãos do Criador, são gotas de bálsamo irrigando feridas. Caetano disse em uma de suas músicas que o tempo é compositor de destinos. Acho que o nobre poeta enganou-se, o tempo são notas musicais nas mãos do verdadeiro compositor de destinos.
A Bíblia diz que há tempo para tudo. É verdade. Não adianta querermos adiantar ou atrasar os acontecimentos, o relógio de Deus funciona diferente.
Todos conhecem o El Ñino, fenômeno que desestrutura as estações. O verão se mete no inverno, o outono quer tomar o lugar do verão, chove onde não deve chover, faz calor onde há necessidade de estar frio, e por aí vai.
No mundo espiritual não existe El Ñino. Época de chuva é chuva, de flores, flores. Se tivermos que passar por rigoroso inverno, passaremos. Mas o mundo espiritual é também um mundo de esperança. O salmo 30:5 diz que “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”. Chove, mas haverá flores, e para que elas nasçam, é preciso chover.
Eis um poema do Lêdo Ivo, chamado A Tempestade. A poesia sempre explica melhor:
“Para que os cajueiros possam florir, caiu esta chuva/que apagou as estrelas e encharcou os caminhos/água e vento derrubaram cancelas antigas, quebraram telhas, vergaram árvores, suprimiram cercas, desalojaram abelhas e maribondos, enxotaram os pássaros predatórios e o galinheiro é um cemitério de pintos amarelos. /Este é o regimento do mundo: relâmpagos e raios antes da flor e do fruto”.

1 comment:

Anonymous said...

Logo no começo do primeiro parágrafo,quando lia sobre dores puramente emocionais,veio-me à cabeça a palavra tempo.Depois a mesma apareceu no texto.E sempre que ouço falar de dores,lembro do benefício lento e eficaz que o tempo traz.De fato,não há palavra amiga,nem remédios,nem antídotos.Só o passar do tempo alivia,parece embaçar a memória.