Quando eu era criança, morava no Jardim América o Joaquim Sabão. Ele tinha essa alcunha por que adorava comer sabão Pavão (o mais famoso e vendável da época) com manteiga Itacolomy. Nessa época, sabão era vendido somente em barra. Os mais abastados compravam uma barra completa, ou várias barras; os pobres compravam meia barra, um quarto. Minha mãe tinha uma bodega e quase todos os dias o Joaquim comprava meia barra de sabão Pavão e um pouco de manteiga Itacolomy, que era vendida a granel. Lembro que mamãe vendia a manteiga embrulhada em um papel de pão, daquele bem grosso. Pois bem, o Joaquim passava a Itacolomy no sabão e nhoc! No início mamãe nem imaginou que fosse pra comer; é que o Joaquim Sabão não comia na frente da minha mãe, pois desconfiava que ela não vendesse mais, e foi o que aconteceu. Horrorizada com a descoberta, mamãe nunca mais vendeu sabão pro Joaquim, mas ele achou outra mercearia e continuou comendo a estranha iguaria, até cair durinho da silva num leito de hospital. Ainda lembro o velório do Joaquim Sabão. Os amigos de copo foram em peso e fizeram uma homenagem ao Joaquim. Adivinha como? Puseram no caixão do defunto uma barra de sabão Pavão, claro, completamente besuntada de manteiga Itacolomy. Um dos amigos, muito triste e bêbado, falou baixinho para o companheiro ao lado, como que para consolá-lo: "Se ele morreu de consciência limpa, eu não sei, mas taí um cabra que morreu de estômago lavado e enxaguado!"
Monday, September 13, 2010
Joaquim Sabão
Quando eu era criança, morava no Jardim América o Joaquim Sabão. Ele tinha essa alcunha por que adorava comer sabão Pavão (o mais famoso e vendável da época) com manteiga Itacolomy. Nessa época, sabão era vendido somente em barra. Os mais abastados compravam uma barra completa, ou várias barras; os pobres compravam meia barra, um quarto. Minha mãe tinha uma bodega e quase todos os dias o Joaquim comprava meia barra de sabão Pavão e um pouco de manteiga Itacolomy, que era vendida a granel. Lembro que mamãe vendia a manteiga embrulhada em um papel de pão, daquele bem grosso. Pois bem, o Joaquim passava a Itacolomy no sabão e nhoc! No início mamãe nem imaginou que fosse pra comer; é que o Joaquim Sabão não comia na frente da minha mãe, pois desconfiava que ela não vendesse mais, e foi o que aconteceu. Horrorizada com a descoberta, mamãe nunca mais vendeu sabão pro Joaquim, mas ele achou outra mercearia e continuou comendo a estranha iguaria, até cair durinho da silva num leito de hospital. Ainda lembro o velório do Joaquim Sabão. Os amigos de copo foram em peso e fizeram uma homenagem ao Joaquim. Adivinha como? Puseram no caixão do defunto uma barra de sabão Pavão, claro, completamente besuntada de manteiga Itacolomy. Um dos amigos, muito triste e bêbado, falou baixinho para o companheiro ao lado, como que para consolá-lo: "Se ele morreu de consciência limpa, eu não sei, mas taí um cabra que morreu de estômago lavado e enxaguado!"
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
2 comments:
Muito bom mesmo!!! Morri de rir desse... Beijos, querida.
kkkkk... q coisa rosane! Amei lembrar do tempo em que se fracionava a barra de sabão que se vendia...
Post a Comment