Friday, September 17, 2010

FUJÕES TURBINADOS

Tava agorinha mesmo no blog Pão&Vinho lendo certa matéria sobre pastores e seus jatinhos. Uma turma de pastores cheios do poder aquisitivo comprou, cada um, seu aviãozinho particular. O mais "em conta" custou "apenas" nove milhões de dólares. Uma bagatela, afinal, o deus da Teologia da Prosperidade está aí pra encher a conta deles de grana. Essa turma diariamente está na mídia e são os donos dos grandes templos evangélicos do Brasil. Eles dizem que precisam se locomover para outros estados, até mesmo outros países, para pregar a Palavra de Deus. Segundo eles, o jatinho facilita a salvação de muitas almas perdidas. Sinceramente, não quero ser maldosa, tenho conversado com O Senhor do céu e da terra e tenho prometido tentar ver bondade em tudo, mas pastor com jatinho particular me inquieta, me inquieta muito. Segundo informações recebidas, possuir um negócio desse não sai barato. Tem que pagar o aluguel do hangar (não é uma garagem qualquer); tem que ter piloto e co-piloto (não é salário de motorista); pagar manutenção (não estamos falando de um carro), combustível, imposto. Tudo isso (tirando o imposto anual) custa, por mês, mais de cinquenta mil reais. Gente, cinquenta mil reais por mês só para manter um jatinho.
Medito sobre as desculpas que eles dão. Medito, medito e percebo que o motivo não é bem o que eles dizem. Vejam, esses pastores estão diariamente envolvidos com a mídia até o pescoço. Todos os dias eles vendem produtos que vão de livros até suor e pedem dinheiro aos fiéis o tempo que durar o culto. Como estão na mídia diariamente, ficam conhecidos, claro.
Sabemos que existem dois públicos para os quais os tais pastores estão expostos: evangélicos e não-evangélicos. Os evangélicos eles encaram numa boa, afinal, são os responsáveis pela existência e manutenção dos jatinhos. Não há problema em encontrá-los nas igrejas, eventos, etc., eles sabem manipular bem essa gente. É certo que existe evangélico que nutre verdadeiro pavor dessa turma de "aviadores", mas é uma minoria, não preocupa nem um pouco a turma que quer ir pro céu de qualquer jeito, de preferência, a bordo de um Cesna Executivo. Agora, os não-evangélicos é outra história. Encontrar com essas pessoas e ficar cara a cara com elas em aeroportos, restaurantes, lojas, etc., deve ser barra. Os tais pastores estão acostumados à proteção dos púlpitos, das suas multidões de fiéis, dos seus muitos bajuladores. Cercados assim, eles não precisam encarar os não-evangélicos, que por não terem nenhum compromisso com a igreja, abrem a boca e ridicularizam mesmo. Essa proteção rola no ambiente deles, mas nos aeroportos é diferente. Chegar uma hora antes do vôo e ficar esperando o momento do embarque deve ser torturante. Todos aqueles olhares indignados. Pode parecer besteira minha, mas um deles admitiu. Disse que era constrangedor para as pessoas encontrá-lo no aeroporto, já que é uma figura pública. Constrangedor para as pessoas por ele ser conhecido? Será que é constrangedor encontrar o Marco Nanini ou a Cláudia Leite em algum aeroporto, só porque eles são pessoas conhecidas? Acho que não é bem isso. O problema está no olhar. Deve ser delicioso ser olhado com admiração, mas ser olhado com indignação deve ser torturante. Tenho pra mim que não suportam serem olhados com reprovação, tão acostumados estão com olhares de adoração. Esse é um dos motivos, o outro é a vaidade. Essa turma de pastores não se esconde mais à sombra do Onipotente, mas em jatinhos particulares. Daqui um tempo necessitarão de iates para levar a salvação às ilhas do mundo inteiro. Acho que a minha tese está correta, apesar de sua aparência boba.
Tem outra coisa que percebo. Se eles têm medo do olhar é porque o olhar incomoda; se incomoda, é porque gera sentimento de culpa; se gera sentimento de culpa é porque eles sabem que algo está muito errado.
Que poder tem um olhar! Jesus sempre utilizou o olhar para dizer o que sentia. Olhou bem dentro dos olhos de Pedro na noite em que foi preso. O peso do olhar de Jesus esmagou o pescador por completo. Nem uma palavra foi dita. Jesus apenas olhou. E Pedro chorou amargamente.
Os fujões turbinados conseguem se esconder do olhar das pessoas, mas eu creio absolutamente que não conseguirão se esconder, nem no céu nem na terra, do olhar e do acerto de contas de Cristo Jesus. Esse dia vai chegar, sim, esse dia vai chegar!

By Rosane de Castro/Setembro/2010

2 comments:

George Facundo said...

Parabéns Rô.

Me solidarizo com sua indignação. São gestores empresariais da fé (ou boa fé alheia). Gigolôs espiritualóides da pior espécie.

Enfim, que Deus nos proteja!

:-)

Anonymous said...

Muito boa sua conclusão! Parabéns pelos textos.