A Praça do Ferreira tava uma ferveção só, de tanta gente. Era um final de tarde de sexta-feira, haveria um show da Leci Brandão, o céu tava um pouco nublado e sem contar que, sendo véspera de sábado, a adrenalina sobe.
Procurei em vão o lugar menos movimentado para ler um pouco e não encontrando, resolvi ceder ao movimento da praça.
Havia uma pequena feira de roupas, enfeites, bolsas, comidas; barracas com corte de cabelo grátis formando filas intermináveis; exposição de fotografias; grupos de terceira idade que chegavam em ônibus particulares e bandos de rockeiros, que, não se sabe porquê, aportaram por aquelas bandas. Sem falar na multidão de homens e mulheres que faziam ginástica ao som de música eletrônica; camelôs, engraxates e o já tão conhecido grupo de aposentados da Praça do Ferreira, com seus semblantes assustados e incomodados pela invasão. A praça parecia que ia explodir.
Já que não iria conseguir ler mesmo, resolvi sentar no lado da praça onde fica o “banco das bichas”. É que a Praça do Ferreira é demarcada, loteada por grupos. Tem o lado dos aposentados, o lado dos pregadores da Bíblia, o lado das bichas e o lado dos “passantes”; gente que simplesmente está só de passagem. Há, democraticamente, banco para todos.
Como o “banco dos gays” (como é conhecido), ironicamente estava longe do “furdunço” e é MUITO mais divertido, sentei perto de um “grupito” que conversava animadamente. Faziam especulação sobre o valor do cachê da sambista Leci Brandão. O “escândalo dos cachês” da Prefeitura de Fortaleza era o assunto mais quente desses dias.
Abri meu livro e fingi ler, mas eu tava mesmo era muito a fim de ouvir a conversa, pois senti que dali poderia sair alguma coisa de interessante. Posso garantir que meu faro foi certeiro.
Chegou um senhor, que notei ser uma “bicha experiente”, que é como eles chamam as de avançada idade, chamado Vidigal e na roda tinha um outro, apelidado de Quartinha, devido ser baixinho e gordinho. O Vidigal ao chegar entrou na conversa e disse:
- Por falar em dinheiro, eu estou com uma pequena empresa especializada em festa para criança. Se vocês souberem de alguém que queira fazer aniversário de criança, é só ligar pra mim! Eu agora sou EMPRESÁRIA, não tenho mais tempo pra ficar vagabundeando na Praça do Ferreira! – disse debochando do grupo.
Bem, antes de contar o final desse diálogo, gostaria de descrever o rosto do Sr. Vidigal. Literalmente parecido com o Fofão, aquele personagem da TV, com cara de leão, monstro, sei lá, que até hoje não se sabe por que fez tanto sucesso entre a criançada. O Vidigal tem umas bochechas enooooormes, um narigão de matar de inveja o Pinóchio e ainda por cima, o pouco de cabelo que havia na sua ainda-não-assumida-careca, era vermelho. Vocês podem imaginar, né?
Então a Quartinha, que do grupo era o mais falante, disparou:
- Quanto tu cobra pra ASSOMBRAR um bando de criança lá no Conjunto Ceará?
O Vidigal “queimou ruim”, o grupo caiu na gargalhada e eu mordi minha língua pra não rir junto. O festeiro infantil “inchou” de raiva, deu uma olhada na minha direção e eu continuei séria, num esforço sobrenatural, fingindo ler meu livro.
- Vai te lascar, bicha cangalha, cafuçú horrorosa, dispeitada...! – perdeu a compostura o pobre do Vidigal.
E saiu afetadíssima.
Nota de Sofia: A foto acima é a Praça do Ferreira, em tardes de calmaria.
Saturday, March 10, 2007
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
3 comments:
Sinceramente, este texto é hilário!!! Eu não acreditaria se não conhecesse a praça do Ferreira e peças como essas de lá. Realmente o cearense (bicha ou não) perde o amigo, mas não perde a piada. Rosane, vc consegue fazer rir como ninguém. Vc escreve como se contasse pessoalmente, sabe? Adoro ler você.
Amiga adorei estou rindo muito, realmente vc é hilário.Olha quando chegar ai quero conhecer esta praça do Ferreira e quem sabe sentar neste banco rsrsrsrsr.
Bjin.
Rô mulher tu não existe. O Edu tem toda razão você ´pe uma escritora nata.
Você e a Praça do Ferreira dispensa comentários.
Post a Comment