Friday, October 24, 2008

Saga no Iguatemi


Minha amiga Íris convidou-me para ir ao cinema. Pra mim foi um pequeno milagre, não pelo fato do convite em si, mas porque sou o tipo que não teve a sorte de ter amigos cinéfilos. É mais fácil eu ter amigo pedófilo do que amigo cinéfilo. Não tem UM sequer que faça empenho de freqüentar uma sala de cinema comigo, mesmo que seja só uma vez por mês; aí me aparece a Íris, descida do céu (não caída, por favor, é diferente), vinda na hora certa, chegada na hora exata.

Marcamos no domingo. Geralmente, os domingos eu tiro para ir à igreja, mas o convite de ir ao cinema foi uma tentação que não pude resistir, então pedi perdão a Deus e disse SIM pra Íris.

Tocamos pro Iguatemi, meio atrasadas. Digo "meio atrasadas" para não cometer a burrice de arriscar que minha amiga, caso leia esse texto, fique chateada comigo e eu perca a tão desejada, esperada e única companheira de cinema, porque a pontualidade na vida da minha amiga (usando o linguajar cinematográfico), é pura ficção. Mas tudo bem! Vale tudo para se ganhar um deleite e temos que amar as pessoas como elas são (rsrsrs).

Pois bem, chegamos ao Iguatemi e fomos estacionar o carro. Entramos no estacionamento coberto e não tinha vaga, é claro. Noventa por cento da população fortalezense e talvez do interior do estado, tinha decidido ir ao Iguatemi naquela tarde. Ficamos literalmente rodando atrás de uma vaguinha e depois ficamos MAIS TEMPO ainda rodando atrás da saída do maldito estacionamento. Resolvemos reconhecer nossa arrogância, decidimos mutuamente darmos a mão à palmatória, usar nosso resquício de humildade e finalmente perguntamos ao "guardador de carros" onde era a saída. Ele riu ironicamente, aquele sorriso de vencedor (acho que passamos por ele um monte de vezes) e apontou a saída bem em cima de nós. Uma sensação de alívio me invadiu repentinamente quando botei a cabeça pra fora da janela do carro e fiz questão de sorver com os olhos o céu azul que despontava acima das nossas duras cabeças. Colocamos o carro no estacionamento a céu aberto. Tratando-se da dupla, era mais seguro, e caminhamos rumo ao cinema.   

Para estrear nossa cumplicidade cinéfila, escolhemos “O Procurado”, com Angelina Jolie e não sei quem mais. Escolhemos este porque somos duas fãs de carteirinha do Brad Pitt, e como não havia NADA com ele em cartaz, resolvemos homenageá-lo prestigiando o mais novo filme, cujo sua linda esposa está como protagonista, por isso não temos a menor idéia de quem eram os atores que estavam no filme nem o nome do diretor, o que é uma vergonha para qualquer cinéfilo que se preze. Mas ponhamos essas falhas á parte e vamos ao que interessa.

Tomamos a escada rolante que leva á bilheteria e ela não estava mais lá, havia se mudado para o andar superior e lá fomos nós. Logo que pude visualizar a bilheteria, achei que, das duas, uma: ou estava havendo uma briga ou talvez o shopping tivesse promovido uma grande estréia trazendo a própria Angelina Jolie em pessoa (e que pessoa), para recepcionar o público de “O Procurado”. Era gente demais. Os noventa por cento da população também resolveu ir ao cinema e havíamos combinado de pegar a primeira sessão devido o preço ser bem mais em conta, afinal, temos que admitir que ser cinéfilo está ficando cada vez mais difícil e pesado pro bolso, mas o pequeno distúrbio "horástico" (inventei essa palavra agora) da Íris impediu de chegarmos na hora. A Irinha confunde 1 hora com 2 horas; é um distúrbio que necessita de ser tratado e não criticado.. (hehe... não quero arriscar). Voltemos á bilheteria!

Pegamos o boletim e procuramos o horário da próxima sessão. Estava lá "Ensaio Sobre a Cegueira", filme baseado no livro do Saramago e dirigido pelo nosso Fernando Meireles; estava também "Mama Mia" com Meryl Streep e elenco maravilhoso. Ficamos tentadas. Por que não? Raciocinamos. E a nossa homenagem ao Brad Pitt? Desistiríamos? Claro que não! Estávamos ali para homenagear o Brad Pitt e íamos fazê-lo, ora!

Finalmente, depois de quarenta minutos, chegou a nossa vez. Compramos os ingressos, corremos para comer alguma coisa e andar um pouco. Andar?? Onde?? Como é que anda no Iguatemi, num domingo á tarde? Lembrei de “A Rosa Púrpura do Cairo”, do Wood Allen, que conta a história de Cecília (interpretada maravilhosamente por Mia Farrow), uma garçonete cinéfila que é transportada para dentro da história. Parecia que o mesmo estava acontecendo comigo e com Íris, ali no Iguatemi, estávamos dentro do filme “Os Últimos Dias de Pompéia”. Em vez de sairmos atrás de barcos, saímos atrás de comida.

Depois de enchermos a pança, fomos concretizar nossa homenagem ao Brad Pitt. Comprei um caríssimo saco de pipoca e adentrei no escurinho do cinema, junto com a Íris. E o filme teve início. Agora, pense num filme ruim e multiplique por mil. Pensou? Multiplicou? Não chega aos pés de “O Procurado”. Violento, confuso e burramente mentiroso. Existem filmes cuja mentiras (comum em qualquer filme) são insuportáveis, mas “O Procurado” bateu todos os recordes; a única coisa verdadeira na tela foi a beleza da esposa do nosso homenageado.